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Brincando com as culturas indígenas
Estamos em abril e no dia 19 deste mês comemora-se o Dia do Índio.
Por quê? Para que? Como? Quando?
Podemos pensar um pouco mais no que esta data e a cultura indígena representam.
*Curumim: palavra de origem tupi que significa criança.
Que tipo de informação queremos transmitir para as crianças? O que elas entendem?
Estas são algumas das perguntas que nos fazemos sempre que o Dia do Índio se aproxima. Hoje, o que sabemos deles é o que a televisão nos conta e muitas vezes o foco das matérias não são as crenças e as culturas indígenas. Algumas regiões, pela proximidade com as aldeias, possuem um contato e uma convivência maior.
Mas, pensando nas nossas crianças da Educação Infantil, como selecionar conteúdos que sejam significativos e provoquem o interesse e o conhecimento delas em relação a estas culturas tão ricas e tão próximas e desconhecidas… Como brincar com estas ideias e outros modos de ver o mundo?
O importante é se preparar para aproveitar as diferentes possibilidades que podem ser desenvolvidas com o tema: cultura e hábitos, alimentos e moradia, locais em que vivem, brinquedos e brincadeiras etc.
Vamos, nesta postagem, nos ater aos aspectos da pintura corporal, uma das características e costume que é mais notada, nas imagens divulgadas.
Para começar a conversa!
Selecione várias imagens de crianças indígenas com as pinturas e introduza na Roda de Conversa para saber o que suas crianças pensam e conhecem.
Pergunte o que estão vendo nas imagens e comente o que você também vê. Mostre os enfeites, as cores e o trabalho de pintura.
Para desenvolver uma atividade
Se o grupo demonstrou interesse e curiosidade, com a tinta já própria para pintar o rosto, proponha que experimentem, em frente ao espelho, e permita que explorem as diversas possibilidades, pintar tudo, fazer ricos, como viram nas imagens (que poderão estar disponíveis para “consulta” em local acessível) … veja as cores e formas geralmente utilizadas pelos indígenas brasileiros nos itens abaixo.
Não esqueça de registrar toda o desenvolvimento da proposta para ter o material do trabalho realizado!
Conhecendo as pinturas corporais
Por seu convívio com a natureza, muitos povos indígenas usam as formas que eles identificam na flora (plantas) e na fauna (animais) para pintarem seu corpo. O mais usual é a repetição de pequenas formas. Este é um aprendizado que os índios fazem desde pequenos. Cada grupo tem um tipo de desenho a partir de seus rituais e crença.
Por exemplo: a cobra para os Yanomami, povos que habitam o norte do Amazonas, é uma linha sinuosa e a onça pintada, uma sequência de pintinhas.
As estrelas para os Yanomami é uma sequência de pequenas cruzes que eles pintam no rosto. O mesmo céu para os índios das tribos Tucano, ao longo do rio Negro, é representado por uma fileira de pontos. Para eles, estas fileiras verticais representam via láctea que é imaginada como um rio celestial.
Nas escolas as crianças indígenas aprendem cada uma destas representações e quando elas devem ser usadas. Mas as pinturas nas crianças são feitas pelas mulheres e tem um significado de carinho com seus filhos, ao passarem horas nesta atividade.
As comunidades indígenas vão se diferenciando uma das outras pela forma e pela repetição de como utilizam basicamente dois elementos: o traço (wahirê) e o circulo (doí). (Tradução na cultura dos Xarentes, povos que habitam em torno do rio Tocantins, Estado do Tocantins). Você pode observar na foto acima no rosto dos meninos indígenas ianomâmis.
Uma curiosidade!
Para os indígenas, as tintas para estas pinturas também vem da natureza. Por isso a maior parte das tribos brasileiras usa a cor vermelha, que é extraída da semente da fruta chamada urucum. Urucuzeiro é uma árvore de mais de 6 metros de altura com uma florada cor de rosa. Você sabia que usamos também para colorir nossa comida? É o colorau!
O azul marinho, quase preto, é retirado do sumo do fruto ainda verde do jenipapo. Para os povos Guaranis, jenipapo significa fruta que serve para pintar. O jenipapo também é uma árvore alta comum no Amazonas e na mata Atlântica. A árvore do jenipapo é da família da árvore do café.
A cor branca vem do calcário, uma rocha sedimentar.
Darcy Ribeiro, um dos antropólogos brasileiro, estudou muito o mundo indígena, diz que “é no corpo humano que o indígena encontra suporte por excelência de sua pintura, é a tela onde os índios mais pintam, e aquela que pintam com mais primor”.
Ampliando o olhar
Onde mais os índios usam as cores?
Os índios também pintam suas cerâmicas, as palhas para tecer objetos e as madeiras dos utilitários, como bonecos, cestos e remos.
Para brincadeiras sonora e sugestões de construção de instrumentos inspirados nas culturas indígenas, leia Vamos conhecer e brincar com a música indígena brasileira
Sobre datas comemorativas, leia: Datas comemorativas: muito além da festa!; Planejamento infantil e as datas comemorativas; Tânia Fulkemann Landau fala da importância das manifestações culturais na formação da criança.
Para aprofundar as pesquisas …
O que sabemos e conhecemos pode ser aprofundado com pesquisa aos seguintes endereços eletrônicos, entre outros:
Daniel Munduruku – É um escritor e professor brasileiro. Pertence à etnia indígena mundurucu. Um de seus livros é Histórias de Índio.
http://www.danielmunduruku.com.br/
http://blog-do-netuno.blogspot.com.br/2010/09/pinturas-indigenas-e-seus-significados.html
Museu do Índio – um museu de saberes e de rituais
http://www.museudoindio.gov.br/
Vamos conhecer e brincar com a música indígena brasileira?
As pesquisadoras e musicistas, Magda Pucci e Berenice de Almeida, fizeram uma expedição sonora em oito comunidades indígenas brasileiras. No livro A Floresta Canta! – Uma expedição sonora por terras indígenas do Brasil publicado pela Editora Peirópolis, elas contam a partir dos registros em seus diários, as tradições culturais destas comunidades e a linguagem utilizada para transformar elementos da natureza música.
Muitas dos hábitos, palavra e alimentos que hoje fazem parte do dia a dia de todos nós tem sua origem nas culturas indígenas.
- Por que tomamos banho diariamente? Os portugueses quando chegaram ao Brasil não tinham o habito do banho diário, os indígenas tinham.
- Por que gostamos de nos deitar em redes? Podem imaginar?
- O que quer dizer carioca?
No livro tem outras palavras, nomes de alimentos, locais e hábitos que tem sua origem nas raízes indígenas.
Onde tem canto, tem história.
As histórias indígenas, cantadas e contadas, são, na maioria das vezes, explicações da origem do mundo, a criação do homem, o surgimento dos animais na Terra com o jeito próprio dos indígenas verem o mundo.
É comum nas histórias contadas para as crianças as canções que trazem as falas dos animais ou de seres da floresta. Em uma aldeia, quem conta a história é o pajé ou o seu líder. Ele conta e vai imitando o que a história relata como o ruído do trovão, do vento ou da água no riacho.
E as músicas?
Magda e Berenice contam que nas aldeias a música é transmitida de forma oral, de geração em geração. Os cantos têm muitos sons anasalados e, em geral, se relacionam com os elementos da natureza e seres da floresta. No mundo indígena, a música está ligada aos momentos especiais. Eles cantam e dançam tanto para brincar, caçar, pescar e construir suas casas, quanto para celebrar seus rituais.
No site da Editora Peirópolis estão disponíveis as músicas indicadas no livro. Abaixo de cada gravação estão as letras das músicas e uma sugestão de pronuncia.
Você também sabe imitar sons da natureza?
Esta é uma pergunta que as autoras fazem.
Muitos instrumentos de produção muito simples trazem os sons da floresta para a brincadeira.
Nas aldeias há vários tipos de sopros, entre eles, as flautas. Os instrumentos de sopro costumam ser feitos com bambu, madeira, cabaças, ossos de animais, rabos de tatu e hoje em dia até de canos de PVC.
Os indígenas gostam de usar chocalhos em diversas partes do corpo: tornozelos, braços, pescoço, cintura, …. e os confeccionam com vários materiais, como sementes, pequenos cascos de animais, coquinhos, o que puder gerar som. Ficam amarrados em uma fita tramada por eles.
Os chocalhos podem ser confeccionados com uma fita ou cordão onde são presas sementes ou grãos aos quais a creche tenha acesso. Fure a semente ou grão e passe um fio para prendê-las na fita ou no cordões, similar ao exemplo nas fotos.
A maraca é o principal instrumento de percussão indígena.
A maraca é um instrumento também fácil de ser construído e pode ser feito com a ajuda das crianças.
A Folhinha (Folha de São Paulo), em 2012, ensinou o passo a passo para fazer uma maraca ecológica. A dica foi de Luthier e do Afonsinho Menino, do grupo Ylu Brazil.
- Passo 1: reúna o material que será usado garrafinha pet, cabo de vassoura cortado em pequenos pedaços, sementes, grãos e pedrinhas, lixa, tesoura, fita adesiva colorida e cone de papel.
- Passo 2: com um cone, coloque as sementes, grãos e pedrinhas até cobrir o fundo na garrafinha.
- Passo 3: lixe o cabo de vassoura para evitar ferir a mão.
- Passo 4: encaixe o cabo de vassoura na garrafinha.
- Passo 5: com a fita adesiva fixe o cabo na garrafa.
- Passo 6: enfeite a maraca com fitas adesivas coloridas.
Mais informações: http://ylubrazil.blogspot.com.br/2012/01/ylu-brazil-ensina-fazer-maraca.html
No youtube a arte educadora Jussara Belloni também ensina umo passo a passo para construir uma maraca a partir de garrafa pet pequena. https://www.youtube.com/watch?v=z-AoQRa4UI0
Na prática
Busque músicas, imagens e histórias de índios e apresente esse universo para as crianças.
Converse, levante as impressões da turma e proponha uma “brincadeira de índio” com os objetos sonoros construídos.
Cante a musica indígena ou coloque uma gravação se você tiver disponível e convide as crianças para tocarem junto.
Como ampliação dessa brincadeira, você pode amarrar cada chocalho numa perna, braço ou cintura das crianças e propor uma dança que “balance” os objetos para que se produzam os sons.
Para brincadeiras de pinturas corporais inspiradas nas culturas indígenas, leia Brincando com as culturas indígenas
Comunidades indígenas visitadas por Magda Pucci e Berenice Almeida
- Yudjá – em tupi significa “donos do rio”, mas também são conhecidos como Juruna ou homem da boca preta. Mato Grosso/ Parque Indígena do Xingu.
- A’Uwé-Xavante – A’uwé significa gente. São mais conhecidos como Xavante. Mato Grosso/ Parque Indígena do Xingu.
- Paiter-Suruí - são conhecidos como um povo cantor e contador de história. Rondônia.
- Ikolen-Gavião – são conhecidos pelos instrumentos de sopro. Rondônia.
- Kambeba – reza a lenda que o povo Kambeba teve sua origem em uma gota d’água que se dividiu em duas partículas e originou o homem e a mulher. Por essa razão, eles vivem sempre entre rios Amazonas.
- Krenak – também gostam de ser chamados de Borum, Palavra que significa “gente” e dá nome a língua que eles falam. Minas Gerais.
- Mbyá-Guarani – eles acreditam que as crianças tem um canal diretor com os espíritos. São Paulo.
- Kaingang – para eles tudo na natureza tem dois lados opostos que se complementam, chamados de Kamé e Kairu. O sol é kamé e a lua Kairu. Rio Grande do Sul.
Autoras
Berenice Almeida – Educadora musical e pianista, formada pela ECA –USP, mestranda em Educação Musical. Entre os livros publicados, destacamos Música para crianças: possibilidades para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental da Coleção Como eu ensino, Melhoramentos; livros do professor Coleção Brincadeiras Musicais da Palavra Cantada, Melhoramentos.
Magda Pucci – Regente, formada pela ECA-USP, mestre em Antropologia, PUC-SP, arranjadora, compositora e cantora, além de pesquisadora da música de vários povos. Dotoranda em Creative Arts pela Universidade de Leiden, Holanda. Dirige e produz o grupo MAWACA desde sua
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